A partir de 1860 ou 1870, no alvorecer da revolução industrial e política na Europa, as transformações correm rápidas: os capitais começam a se concentrar, gradualmente novas tecnologias são introduzidas, a mão-de-obra já não encontra mais alocação remunerada, os impostos sobem, a divisão da terra em decorrência de processos hereditários passa a tornar a pequena propriedade improdutiva. Chega-se a um ponto, lá por 1880, em que cresce desproporcionalmente o número de famílias sem condições de subsistir, porque já não dá mais para funcionar como outrora, ou seja, cultivar lavouras de trigo, uva, azeitona, arroz, milho, como faziam os avós e vender aquela produção localmente para manter a família. O preço dos gêneros alimentícios cai, os impostos se multiplicam, os quinhões de terra são reduzidos, finalmente surgindo o ameaçador espectro da falta de trabalho e da miséria. Dito de outro modo, o avanço da miséria na Itália paradoxalmente acompanha a concentração de capitais, as inovações tecnológicas, as novas relações internacionais e a pungente intensificação do sentimento nacional. O país acaba de se descobrir, os fogos de artifício mal iluminaram a cúpula do Duomo de Milão, recém-içada foi a bandeira tricolor e arriada a austríaca, e a fome e a depressão rapidamente começam a se espalhar. Que efeito gerará esse paradoxo sociológico? A massa rural procurará vender trabalho em outras praças, de início, como se sabe, na construção de obras faraônicas, como a abertura do canal de Suez, ou na construção de estradas de ferro na Inglaterra, na Escócia, na Alemanha e na França. Mas as distâncias não tardarão a se ampliar.
Essa, e precisamente essa, é a dor dos italianos: na hora em que falta pão a pátria não lhes dá cobertura, e, indiferente, permite friamente que partam. Pode-se até dizer que os expulsa, já que deles não se ocupa na hora do desespero e os abandona à própria sorte. E ainda mais: com bases nos estudos históricos aqui apenas mencionados, é de supor que interessasse à pátria esse descomunal êxodo, visto que no seu avesso descobriu-se um vigoroso processo de geração de renda no exterior. Em termos junguianos, essa seria a sombra do processo migratório: o que parece apenas "pena", ocultamente é lucro.
fonte: Roberto Gambini
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